segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

25 Horas de Interlagos, da redação para o cockpit do Ford Corcel




Confira o "Muito Além de Rodas e Motores" em https://soundcloud.com/user-645576547/

Hoje, recordo a minha participação como piloto na corrida 25 Horas de Interlagos de 1973, idealizada pelo piloto e construtor de automóveis Antonio Carlos Avallone que, com a organização desse evento, ampliou suas atividades, incluindo em seu currículo a organização de corridas.


Com a ousadia que sempre teve, promoveu a mais longa competição brasileira, que marcou o lançamento no mercado e a vitória do Ford Maverick, pilotado pelos irmãos Bird e Nilson Clemente e o campeão da Fórmula Ford, o gaúcho Clóvis de Moraes.

A corrida foi um sucesso, com uma disputa intensa e equilibrada entre os carros Maverick e Opala, que entusiasmou todos que foram ao Autódromo de Interlagos.

O Maverick era mais rápido, mas o Opala, conduzido por Bob Sharp, Jan Balder e Antonio Castro Prado, tinha maior autonomia. Enquanto o Maverick precisava parar no boxe a cada 20 voltas, o Opala podia ser reabastecido em intervalos de 29 voltas, o que equilibrou a disputa. Num final eletrizante, o Maverick ganhou a competição, mas o Opala, reduzindo a diferença a cada volta, chegou em segundo lugar com diferença de apenas 45 segundos. Uma luta de gigantes.

A Ford, que passou a apoiar as competições depois de adquirir a Willys Overland, por intermédio de seu departamento de relações públicas e, com a ideia do publicitário Mauro Salles, decidiu convidar três jornalistas para conduzir na corrida um Corcel, da equipe chefiada por Luiz Antonio Greco, para proporcionar a eles a ampliação de experiência profissional.

Os jornalistas convidados foram eu, o Fernando Calmon, da revista Cruzeiro, e Mathias Petrich, da assessoria de Imprensa da Ford.

Além da oportunidade de conduzir um carro de corrida, sentir as emoções que a pista proporciona e dar ao trio maior experiência para melhor analisar as competições, a participação na corrida foi uma verdadeira aula.

Na corrida, senti que o piloto precisa conduzir o automóvel com extremo cuidado em velocidade que nas ruas e estradas não pode atingir, exige controle do sistema nervoso para dosar o entusiasmo e não passar dos limites, utilizar a sinalização que indica a distância das curvas para frear o mais perto possível, não errar as mudanças de marcha para evitar ultrapassar o limite de rotações do motor, e não se empolgar em disputas que possam levá-lo a erros e provocar acidente. O piloto precisa ser como um administrador de empresas que segue à risca todos os procedimentos regulamentares.

Eu, Fernando Calmon, e Matthias Petrich formamos o trio de pretensos pilotos seguindo as recomendações de Luiz Antonio Greco para completar a corrida sem preocupação com o resultado.

Entre os três participantes, o mais efetivo e de maior regularidade foi Fernando Calmon, que manteve o ritmo de 4 minutos e 24 segundo para as voltas cumpridas na pista que, na época, tinha 8 quilômetros de extensão. Minha média era de 4 minutos e 26 segundos, mas em muitas voltas também estabeleci o tempo de Calmon.

Outra preocupação importante foi seguir a recomendação de Greco para prestar atenção no espelho retrovisor e perceber a aproximação de carros mais velozes, como os Maverick, Opala e Dodge e não comprometer o desempenho de seus pilotos.

Nesse ritmo cuidadoso, aproximamos do final da corrida na terceira posição da categoria de carros com motor até 1.600 cm3 de cilindrada. Mas na 23ª. hora de corrida, um dos semieixos do automóvel não resistiu aos esforços submetidos determinando o fim de nossa diversão.

Para aumentar nossa decepção um dos carros que estavam na nossa frente também desistiu. E o nosso consolo foi poder dizer que tínhamos tudo para ser vice-campeões da importante corrida.

Além da experiência que adquirimos com a oportunidade que a Ford nos ensejou, a participação na corrida nos transmitiu maior conhecimento e contribuiu para sermos melhores motoristas, principalmente em cuidados com o carro e na condução com segurança. No tempo em que as fábricas participavam de competições era tudo muito divertido.

Quem tiver vontade de sentir emoções em um autódromo, consulte a internet, escolha um dos cursos disponíveis e, quando receber a carteira de piloto, vá se divertir num dos autódromos brasileiros.

Nenhum comentário: